Faz parte da
sabedoria popular, que o ser humano não morre de uma só vez, mas vai morrendo aos
poucos, quando perde cada integrante do seu universo afetivo, composto do círculo
familiar e de amigos, até que, não tendo nada mais a perder, estará morto,
mesmo que ainda existindo.
Um dia, ainda criança,
perguntei à minha avó, já idosa, considerando a sua experiência da vida, com
que idade gostaria de morrer, e a resposta veio na base da sabedoria: “Quando
eu tiver perdido todas as pessoas a quem amo”.
No último dia
15 de fevereiro, perdemos, familiares e amigos de Sálvio de Figueiredo Teixeira, um pedaço precioso do nosso universo
afetivo, o que significa que morremos um pouco mais, além daquele em que continuaremos
morrendo a cada dia, na nossa passagem pela vida, em direção ao INFINITO.
Não vou falar,
aqui, do profissional do direito, porque o juiz, o desembargador e o ministro Sálvio
de Figueiredo Teixeira todos os operadores do direito conhecem, não apenas
pelas suas obras jurídicas, mas, sobretudo, pelos votos proferidos no Superior
Tribunal de Justiça, sobre questões que, quaisquer que fossem, eram impregnadas
de sensibilidade social, sentimento, infelizmente, ausente em muitos dos juízes
dos nossos dias.
Quero registrar,
nesse momento, o outro lado desse jurista, que somente os que conviveram com
ele podem avaliar.
Agora que
partiu para onde todos partirão um dia, deixa-nos um legado de vida, pleno de
boas recordações, de sensibilidade judicante e, sobretudo, de sabedoria jurídica, que faz
com que o nosso amigo e jurista continue entre nós, pois o que torna um jurista
imortal não é a sua presença, mas o seu
passado, retratado na sua obra jurídica, verdadeiro passaporte para a Imortalidade,
e o de Sálvio é do tipo passaporte diplomático.
Sálvio era um
ser humano que a todos encantava, e os que dele se aproximavam tornavam-se seus
amigos, tendo o editor Arnaldo Oliveira, da Livraria Del Rey Editora, talvez o
mais ardoroso de todos, tomado a iniciativa de criar uma entidade que
congregasse tanta amizade, surgindo assim a “Sociedade dos Amigos do Sálvio”
(SAS), e que, sempre que surgia uma oportunidade, reunia os associados; e, quando
essa oportunidade demorava a surgir, era provocada, ensejando a presença do seu
patrono, para um bate-papo regado de muito bom humor.
Para reunir-se,
a SAS não precisava de um motivo, bastando-lhe
um pretexto, na medida em que o
importante não era o tema do
encontro, mas a presença de Sálvio, pois o assunto partia dele e se concentrava
nele; todos queriam curtir o amigo, que era realmente uma companhia
inigualável.
Eu nem sei se a
SAS tem personalidade jurídica, com registro em cartório, e, a meu ver, nem
precisaria ter, porque uma sociedade que tem o nome de Sálvio é daquelas que se
registra na alma, no coração, no espírito, tornando-se, assim, indelével, per omnia saecula saeculorum.
Pessoalmente,
não cheguei a me tornar um sócio efetivo da SAS, nem a participar dessas
reuniões, mas tivemos, eu, a Tetê, minha mulher, minhas filhas e genros a rara
oportunidade de conviver com o Sálvio e sua mulher Simone, também amiga de
alma, e, sempre que possível, com seus filhos, o que nos fez tornar sócios anímicos dessa entidade, porque amamos
muito o ser humano e amigo que a inspirou.
Uma das mais
difíceis situações em que me encontrei, até hoje, foi a de ter que dar à Tetê a
notícia de que o seu ex-professor na Faculdade de Direito da UFMG e amigo
fraterno, já não estava mais entre nós, pois ela vinha planejando visitá-lo em
Brasília, assim que surgisse uma oportunidade, e esta já não fazia mais
sentido. Não adiantou muito ter adiado a notícia, porque dada no dia seguinte, o sentimento da
perda foi o mesmo, e ela chorou muito o passamento.
Partiu Sálvio,
o patrono da SAS, mas ficam as boas lembranças da convivência com o amigo
Sálvio, que passou pela nossa vida, deixando tão boas e profundas marcas, que o
tempo será incapaz de remover.
Que DEUS o
tenha na sua Glória, Sálvio, e dê aos que ficaram o necessário consolo, no aguardo da sua hora de
partir.