(continuação)
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"A minha
vida de estudante, que já era dura, acabou duríssima com a morte do meu pai,
pois o que eu ganhava como auxiliar de escritório, abaixo do salário mínimo, em
torno de dezessete mil cruzeiros na época, quando o salário mínimo era de vinte
e um mil cruzeiros, não era suficiente para atender às poucas necessidades da
casa, para ajudar no sustento da família.
Lembro-me
que tínhamos um colega de Faculdade, que atendia pelo apelido de Toninho Baiano,
natural de Teófilo Otoni, que fazia a festa da casa todas as tardes dos finais
de semana, pois, chegando lá, mandava comprar pó de café, pão e manteiga, e só
aí é que tínhamos um lanche farto; porque durante a semana o que tínhamos era o
suficiente para sobreviver.
Como eu
era o único adulto e solteiro, na família, coube-me a tarefa de conduzir os
minhas irmãs e um irmão ao seu destino, missão que cumpri com a maior grandeza
e dignidade.
Eu me
dispus a fazer o curso de Direito em virtude das injustiças que sofrera ainda
criança, e o meu desejo era um dia ser um juiz e poder fazer a justiça que,
desde então, trazia na minha alma.
Tive uma
grande decepção na minha vida, que, bem cedo, mostrou-me que viver era bem mais
complicado do que me parecia, e que eu precisava ser cauteloso na minha caminhada,
ensinamento que, se tivesse aprendido, teria me talvez me poupado do furacão
que se abateu sobre mim.
Sendo o
meu pai um político, nossa casa era frequentada por inúmeros deles, o que me
passava certa segurança, porque eu supunha que pudesse contar com a ajuda
desses “amigos” em qualquer eventualidade.
Estava equivocado, pois, além todos nos
virarem as costas depois da morte do meu pai, que já não lhes rendia votos, um
deles nem sequer nos recebeu na sua casa, quando eu e minha mãe o procuramos na
esperança de me ajudar a conseguir um emprego.
Essa decepção me mostrou que a vida era uma batalha,
e que eu só teria chance de vencer à custa do meu próprio esforço, pelo que
passei a estudar com afinco, para terminar o meu curso de Direito e prestar um
concurso público; e foi o que fiz."
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Trecho do livro OPERAÇÃO HURRICANE: UM JUIZ NO OLHO DO FURACÃO (Geração Editorial), encontrável em www.saraiva.com.br e em www.bondfaro.com.br