(continuação)
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Como o dinheiro era curto,
as roupas também eram escassas, e eu só tinha uma camisa tipo esporte, que
vestia aos sábados, tendo de lavá-la à noite para vesti-la de novo no domingo,
até que certa vez minha irmã, Maria das Graças, ganhou uma camisa do namorado,
e, vendo a minha situação, resolveu presentear-me com ela, fazendo fortuna no
meu visual, apesar dos meus 1,82m de altura e 51k de peso. Nunca me senti tão
bem como ao vestir aquela camisa, fruto da generosidade da minha irmã; e tanto
que esse fato nunca mais saiu da minha memória.
Os livros de Direito em que
eu estudava eram emprestados pela Biblioteca da Faculdade, pois não tinha
condições de comprá-los nem em módicas prestações mensais.
A minha vida de estudante,
que já era dura, acabou duríssima com a morte do meu pai, pois eu ganhava como
auxiliar de escritório um salário abaixo do mínimo, em torno de dezessete mil
cruzeiros na época, quando o salário mínimo era de vinte e um mil cruzeiros;
salário este que não era suficiente para atender às poucas necessidades da
casa, para ajudar no sustento da família.
Lembro-me que tínhamos um
colega de Faculdade, Toninho baiano, natural de Teófilo Otoni, que fazia a
festa da casa todas as tardes dos finais de semana, pois, chegando lá, mandava
comprar pó de café, pão e manteiga; e só então tínhamos um lanche farto, porque
durante a semana o que tínhamos era apenas o suficiente para sobreviver.
Como eu era o único homem
adulto e solteiro na família, coube-me a tarefa de conduzir as minhas irmãs e
um irmão ao seu destino, missão que cumpri com a maior grandeza e dignidade.
(continua na próxima semana)
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Trecho do livro OPERAÇÃO HURRICANE: UM JUIZ NO OLHO DO FURACÃO (Geração Editorial), encontrável nas livrarias SARAIVA e TRAVESSA, e também www.livrariasaraiva.com.br, www.travessa.com.br, www.estantevirtual.com.br, e em outras livrarias do País.