(continuação)
"Lembro-me
de que o delegado federal Gioia disse, logo que tomou conhecimento dessa nossa
pretensão, de serem as visitas pessoais realizadas fora do parlatório,
respondeu que, se fosse intimado, cumpriria à risca o mandado, mas que todos os
advogados e advogadas teriam de ser devidamente revistados, o que provocaria
uma fila enorme na entrada, atrasando o nosso encontro com eles.
Essa
observação soou para nós como uma “desrecomendação”, principalmente quando
feita por um delegado federal, pelo que nos sentimos desestimulados da nossa ideia;
e alguns presos tiveram de convencer aos seus advogados de que era melhor
continuar a falar no parlatório mesmo.
Quando entrei no parlatório,
o meu irmão Bonifácio lá estava, de cabeça baixa, evitando olhar-me nos olhos,
mas, no decorrer da conversa, passou a falar comigo, a encarar-me de frente com
a certeza de que tudo não passava, como, realmente, não passava, de uma tremenda
armação.
Foi esse meu irmão o
primeiro a me dar a notícia de que a mídia havia divulgado uma conversa minha
com meu genro, em que eu falara “minha parte em dinheiro”; pois até então eu não
tinha tido conhecimento desse fato; e nem me lembrava de nenhuma conversa nossa
envolvendo dinheiro; mesmo porque eu sabia que meus telefones e o meu gabinete estavam
grampeados, e jamais iria tratar por telefone de nenhum assunto que não pudesse
ser tratado publicamente."
(continua na próxima semana)
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Trecho do livro OPERAÇÃO HURRICANE: UM JUIZ NO OLHO DO FURACÃO, encontrável em www.saraiva.com.br e na Livraria Laselva (nos Aeroportos).
NOTA - Para quem não sabe, o Parlatório é aquele local onde o preso conversa com seu advogado, pelo telefone, separados por um vidro de grossa espessura.
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