domingo, 10 de agosto de 2014

A TRAMA DIABÓLICA





  (continua)

      Na escola, eu tinha um grande amigo, Pedrinho, Pedro Ludovico Estivalet Teixeira, filho de Mauro Borges, o governador da época, e neto de Pedro Ludovico. Pedrinho foi eleito vice-prefeito de Goiânia pelo PMDB (1985) na chapa encabeçada por Daniel Antônio. Ele faleceu em 16 de fevereiro de 1987, em Goiânia. Apesar de nossos pais serem ferrenhos adversários políticos, davam-se o respeito mútuo porque não se atacavam as pessoas, mas a sua ideologia, os atos como agente público, quando não iam ao encontro das expectativas e necessidades da população.
      Mauro Borges foi cassado em 26 de novembro de 1964. Na noite anterior, o coronel Danilo da Cunha Melo, comandante do 10º Batalhão de Caçadores (10º BC, unidade do Exército com sede em Goiânia), nos retirou às pressas de nossa casa, inclusive os meus avós maternos, desembargador Eládio de Amorim, ex-presidente do Tribunal de Justiça e ex-interventor federal em Goiás, e Antonieta Cupertino de Barros Amorim, na Rua 16, Centro, próximo ao Palácio das Esmeraldas. Fez com que nos refugiássemos na casa de parentes. 
      No dia seguinte, vi aviões Thunderbolts da Força Aérea Brasileira (FAB) dando voos rasantes na Praça Cívica. De fabricação norte-americana, esse caça apresentava excelente desempenho a baixas altitudes e velocidade para a época. Assim, é possível imaginar o resultado da operação, caso Mauro Borges decidisse continuar resistindo apenas com o apoio da Polícia Militar, instituição auxiliar das Forças Armadas.      
      Eis que, em certo momento, a Rádio Brasil Central anunciava a queda do governador Mauro Borges. 
       Assim como as máfias, as ditaduras têm o diabólico poder de conspirar contra supostos inimigos, estejam eles do outro lado ou na mesma trincheira. Nesse instante, se estabelece uma cadeia generalizada de desconfianças sem limites. Esse deletério clima de maquinação pode ter início antes de instaladas as ditaduras. Ou seja, tende a formar a atmosfera propícia a sedimentar o terreno para os golpes militares e políticos. 
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    Trecho do livro "QUANDO O PODER É INJUSTO" (Editora Kelps), de autoria de Eládio Augusto Amorim Mesquita, que foi também uma das vítimas da "Justiça", e conta seu drama nesse livro, para não deixar impune seus algozes. 

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