domingo, 13 de maio de 2012

COMEÇO DE UMA JORNADA



(continuação)

"Minha mãe, professora primária no interior de Minas, não ganhava o suficiente para manter a própria subsistência, por conta dos atrasos de vencimentos que duravam meses, sem condições de nos ajudar nos estudos na Capital.
Antes da morte do meu pai, havíamos alugado um pequeno apartamento em Belo Horizonte, num edifício de baixa classe média, que foi a nossa salvação, pois serviu de abrigo para toda a família. Era um apartamento de apenas um quarto, mas tão pleno de amor e de dignidade, que nos sentíamos numa mansão.
Essa batalha não foi apenas minha, mas também das minhas irmãs mais velhas, Maria Regina, Maria Helena e Maria das Graças, que foram comigo à luta, dando aulas na periferia de Belo Horizonte para ajudar no sustento da casa e dos irmãos menores.
A minha irmã caçula, Maria da Conceição, hoje uma advogada trabalhista na capital mineira, tinha, então, apenas cinco anos; e sequer teve a oportunidade de conhecer bem o pai.
Lembro-me de que as aperturas financeiras do meu tempo de estudante eram tão grandes que, durante certo tempo, eu tinha três empregos, sendo um na Faculdade de Farmácia – onde entrei como escrevente-datilógrafo e saí como Secretário da Faculdade – trabalhando das 7 às 12 horas; dali saía correndo, sempre de ônibus, para pegar um estágio remunerado na Faculdade de Direito, das 13 às 18 horas; e, dali, correndo de novo, para pegar serviço no então Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, onde trabalhava em cadastramento de terras, das 19 às 24 horas. Eu trabalhava, praticamente, das 7 à meia-noite, o que pode ser comprovado se consultados os registros das instituições onde trabalhei; e, com isso, ao deitar-me, eu nem dormia, mas simplesmente desmaiava."

(continua na próxima semana)
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NOTA - Trecho do livro OPERAÇÃO HURRICANE: UM JUIZ NO OLHO DO FURACÃO (Geração Editorial, já na 3ª edição), encontrável para compra em www.saraiva.com.br e em www.bondfaro.com.br 

Um comentário:

  1. Conheço a história de sua honrada e trabalhadora família, para saber que tudo o que relata aconteceu assim mesmo.
    Só um pequeno detalhe conheço também: suas irmãs são mais novas que o senhor, e não mais velhas. E com o óbito de seu pai tornou-se o arrimo de sua família, quando tinha pouco mais de vinte anos, um adolescente estudioso e inteligente, que não se curvou aos embates da vida.

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