terça-feira, 5 de julho de 2011

MARTÍRIO DE UM MAGISTRADO PELA TV

"Quando tive o infortúnio de assistir na TV o martírio de magistrados como V. Exa., lembrei-me do curta-metragem documentário de Alain Resnais "Nuit et Brouillard", traduzido como 'Noite e Neblina' (mesmas iniciais na língua alemã - 'NN', gravadas nas vestimentas dos deportados judeus nos campos de concentração nazistas), cujas cenas finais o poeta Jean Cayrol comenta "Nós que não pensamos em olhar ao nosso redor e que não ouvimos os que estão gritando sem fim." 
Foi Claude Mauriac, em artigo publicado no Figaro Littéraire em 26 de maio de 1956, quem sustentou:
"(...) Este filme não seria tão lancinante se não fosse relacionado a nós diretamente. Quaisquer que sejam as responsabilidades do regime nazista e a ignomínia que atingiu a industrialização do crime, precisamos reconhecer que não é tanto o Hitleriano, nem com mais razão o Alemão, que está sendo questionado, senão o Homem. Ignorávamos até a revelação dos campos da morte que o homem fosse capaz de ir tão longe na selvageria e na vergonha. Nós todos, enquanto existimos, pertencemos à mesma espécie que esses torcionários aplicados, que esses impiedosos, meticulosos e pacientes verdugos. Bem mais próximos deles, por mais civilizados e refinados que gostemos de ser, do que do lobo, da hiena e do louva-a-deus. As imagens ferozes de Noite e Neblina nos pareceriam mais suportáveis, por mais atrozes que fossem, se elas não nos obrigassem a reconhecer uma regressão que, depois das grandes esperanças do século XIX, trouxe o homem de volta à sua inumanidade de origem.(...)"
Pois bem, lendo seu livro investigava em qual momento V.Exa. teria inserto a incoerência dos mesmos moralistas que se sujeitaram a organizar e participar de um Encontro em Búzios, patrocinado por um renomado e milionário escritório de advocacia, cuja importância no mundo dos negócios internacionais da propriedade intelectual, entre outras áreas de atuação, poderia colocar em questão a idoneidade da jurisdição da Segunda Região, como noticiaram certos jornalistas.
Mas não encontrei esse paradoxo, heteronímia, no seu livro.
Pensei ... talvez o Desembargador tenha considerado essa contemporaneidade uma visão anódina para inserí-la em suas memórias de sujeição à ignomínia humana.
V. Exa. e tantos outros estamos sujeitos às contradições do viver. Contente-se em saber-se vivo e coerente, do que trazer na sua alma o ressentimento e culpa dos seus que pensam ser homens."

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