segunda-feira, 19 de março de 2012

MONTAGEM DE UMA FARSA


(continuação)
O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, boiou tanto na elaboração da denúncia que me deu como integrante de uma quadrilha que autorizava mediante liminares o funcionamento de bingos no Rio de Janeiro e Espírito Santo, sem se dar ao trabalho de ler direito o que constava do inquérito policial, porque eu só mandara liberar máquinas de bingo, e não funcionar bingos.
Foi essa frase grampeada e montada pela Polícia Federal que os grampeadores vazaram para a mídia, tendo o repórter da Rede Globo se apressado em acrescentar à montagem a palavra “minha”, por sua conta, vindo as emissoras de televisão a pôr no ar a frase montada “minha parte em dinheiro, tá?”, que, sobreposta por escrito no vídeo e divulgada concomitantemente com a minha voz, que grande parte do mundo jurídico conhece, passou a impressão de que eu havia dito o que, na verdade, não dissera, mesmo porque a frase montada pela Polícia Federal, constante do seu relatório, era apenas “[...]arte em dinheiro, tá?”.
Essa montagem, irresponsável e criminalmente vazada pela Polícia Federal para a mídia, numa afronta à autoridade que determinara que as buscas e prisões fossem sigilosas, nem a Associação dos Juízes Federais, na época, conseguiu, apesar de insistentemente peticionado ao ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, fazer com que ele fizesse cessar as repetidas divulgações. Isso demonstra que nem sempre o poder para mandar importa na força moral para desmandar.
           Provavelmente a Polícia Federal não encontrou a palavra “minha”, nas conversas que tive com Silvério Júnior, porque, se tivesse encontrado, a teria acrescentado na montagem da maldita frase. 
(continua na próxima semana)

Trecho do livro OPERAÇÃO HURRICANE: UM JUIZ NO OLHO DO FURACÃO (Geração Editorial), encontrável em www.saraiva.com.br e em www.bondfaro.com.br 

Um comentário:

  1. Fui acordado pela polícia federal numa quinta feira dia 29.03.12...preso, levado na "caçapa" do SOE para uma "prisão especial" pois tenho nível superior.
    Sou médico, professor universitário, eleito recentemente entre os cem melhores secretários de saúde do Brasil e receberei no dia 11-04 no TCE prêmio de "melhores práticas de gestão em 2011".
    Por achismos fui preso, algemado e transportado como um porco na gaiola do SOE... li este formidável livro na prisão e fiquei assustado com o que o futuro me reserva !!!
    Vivemos um Estado de exceção...

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