(continuação)
_________________________________________________________
Nos dias seguintes, os telejornais de todo o país entraram
numa histeria coletiva de exibição da matéria, falando sem cessar de esquemas
de compra de sentenças que incluiriam vários desembargadores, eu inclusive, tendo
a certa altura sido colocada no ar uma frase com a minha voz, dizendo “a minha
parte em dinheiro, tá?”, explicada como uma ligação minha para meu genro, pedindo
que a minha parte na negociação fosse paga em dinheiro.
As reportagens foram tão exageradas que um delegado da Polícia
Federal, chamado Emmanuel, declarou à Rede Globo que “aquela operação era um
divisor de águas” no combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, tendo sido
eu e o desembargador Ricardo Regueira alçados à condição de bandidos mais
perigosos do país.
O detalhe que faltou nessas reportagens é que nada disso
era verdade, mas fruto de uma armação, forjada pela Polícia Federal, sob o comando
do delegado federal Ézio Vicente da Silva, numa investigação sob a tutela do
então procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza, e supervisionada
pelo ministro Cezar Peluso do Supremo Tribunal Federal, que, mais tarde, viria
a relatar contra mim uma denúncia formulada pelo mesmo procurador-geral da República,
convencendo o Plenário daquela augusta Corte de que havia sérios indícios de
minha participação na quadrilha de bingos.
Nada havia de
concreto além de maquinações, montagens de provas e suposições contra mim e o
desembargador Ricardo Regueira, mas, sem um exame meticuloso, o
procurador-geral da República induziu o ministro do Supremo Tribunal Federal a
me supor um marginal, tendo eu sido execrado publicamente pela mídia, apesar de
todo o meu passado de juiz e de professor de Direito, com uma das maiores obras
já produzida individualmente por um escritor neste País; e inclusive conhecido da
maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal, com muitos dos quais convivi
ao longo da minha carreira.
Em outros termos, fui julgado sem saber por que razão, e
previamente condenado através da imprensa sob os auspícios do Supremo Tribunal
Federal, cujo ministro teve poder para mandar me prender, mas não para fazer
com que a operação que ele próprio havia supervisionado acontecesse, como ele
próprio determinara, em “segredo de justiça”.
(continua na próxima semana)
__________________________________________________________
Trecho do livro OPERAÇÃO HURRICANE: UM JUIZ NO OLHO DO FURACÃO (Geração Editorial), encontrável, inclusive na versão e-book, nas livrarias SARAIVA e TRAVESSA, e em www.livrarias.saraiva.com.br, www.travessa.com.br, www.livrariacultura.com.br e também em www.estantevirtual.com.br, www.bondfaro.com.br e em outras livrarias do País.
Nenhum comentário:
Postar um comentário